Memórias de Verde, Silêncios de Azul

Poemas soltos, por Elsa Braz

sexta-feira, março 24, 2006

Ser ou não ser Poeta

Quando me chamam de poeta
Sou
Ou não sou?

Se ser poeta
É ser dono e senhor
De palavras nem sempre decifráveis
Prisioneiras a uma corrente
Onde se sente
Ou não se sente
As ideologias
Os conceitos…
Se adultera, transforma,
A dor que rasga o peito
Ou a esperança…

Não sou poeta.

Nasci
Entre os montes
Escuros
Bravios
De promessas
E o céu
Acima de todos os limites.

Cresci
Frágil e subtil
Como a flor do trevo
Que consegue romper
Entre os rochedos.

Com uma nesga de sol nas pétalas
A força imbatível das abelhas
E o amor
O amor à vida.

Poeta
Ou não
Vivo.

Apenas o meu canto desafinado
Sempre e só
No horizonte de todos os caminhos.

Como o sino
Constante
De um campanário.

quinta-feira, março 23, 2006

O Melro

Quando as folhas caíram
Num sonho de alma nua
No jardim da minha rua
Ficou um melro
Esquecido.

Á chuva
Aos vendavais
E mais
De quantas quimeras
Se escondem
Na primavera.

Todo de noite vestido
O sol no bico esquecido
E o coração pesado
De amor
Acumulado.

Ficou
Fiel
Guardião
Cantando a solidão
O abandono
De ser
Com a voz esganiçada
Triste
Dolente
Magoada.
Cantando
P/ra não morrer.

Aos meus filhos

Aos meus filhos

A vida
Deixou-me
Á beira de um caminho

Com as mãos cheias de sonhos.

Podes ser árvore
Ou pássaro
Criar raízes
Ou voar.

Fui vento
Chuva
Terra arável
Tempo de amor
Espera.

Cresci em ramos
Abracei espaços
Verde
Nos rebentos
Nas folhas
A magia das flores.

Irmã das madrugadas
Das tempestades
Das bonanças
Embalei berços e afectos
Semeei ilusões
Certezas
E voei
Nas asas dos pássaros.

domingo, março 12, 2006

Aquela mãe

Aquela mãe
Olhos de água
Embala um filho
No peito
Verde
Na mágoa
No jeito
Como a nascente
Que cresce
No destino
De alcançar
E em rio
Se perde
E esquece
E em rio
Se torna mar.

Embala o filho
No olhar
Com mãos
Batidas de vento
Não tem espera
Não tem tempo.

Rasgando a noite
As estrelas
Caminha
Verde no jeito
O filho que leva
Ao peito

Além
As vozes caladas
Pelas veredas fechadas
Num sonho
De alma nua
Caminha
Pisando a lua.

Nas mãos
Batidas de vento
Velas
Não tem espera
Não tem tempo

Caminha
Pisando a lua
Atravessa continentes
Desejos de amor ausentes
Cantando a noite
A manhã

A Nossa Senhora

Aquela Nossa Senhora
Vestida da cor celeste
É a Senhora que eu sinto
A Virgem a quem não minto
A quem entrego as flores
E todos os meus amores
Cada dia
Em romaria.

Senhora dos meus encantos
Nos momentos de alegria
Tão fáceis de dizer sim.
Senhora das minhas preces
Pelos caminhos do não
Em que de tudo se esquece
No bater de outra ilusão.

Nossa Senhora
Tal qual
Com a grinalda da Esperança
Praia imensa
Onde descansa
Meu coração inquieto
Onda nas ondas do mar
Mar de brumas encoberto.

Nossa Senhora
Dos passos
Das mãos abertas
Abraços
Onde se embala o viver.
Confidente
Nas demoras
A MÃE de todas as horas
Razão e fim
Do meu ser.

Poema ( à minha amiga Marta)

Menina sentada
À porta da vida
Esperança escondida
Nas margens do olhar
Menina distante
Menina esquecida
Com sonhos de céu
Com sonhos de mar.

Menina crescida
Com laços na alma
De fitas às cores
Em trança a apertar
E flores a abrir
Nos lábios cerrados
Com a primavera
Em sulcos marcados
Sorrisos perdidos
Logo ao despontar.

Menina mulher
E na fé criança
Que abre as manhãs
De um dia qualquer
O vento nos dedos
Remos de bonança
Um mar sem destino
De quimeras vãs.

Quisera menina
Devolver-te o tempo
Devolver-te a vida
E aquela Esperança
De mesmo crescida

E aquele Amor
Que não tem medida.

O nosso amor

O nosso amor
É feito de silêncios
Que sempre respeitamos.
Em cada minuto de silencio
Nós estamos.

É amor
O beijo que me dás na despedida
E sempre quer dizer
Seja qual for a vida
Estou contigo.

É amor
O beijo que me dás logo ao chegar
Com toda a primavera
No coração
A entrar.

É amor
O olhar em que adormeço
E me encontro ao acordar
Amor de silencio
Em que me esqueço
Porque em cada instante
É tempo
De encontrar.

Amor singelo como as madrugadas
Amor feitiço das noites orvalhadas
Amor sofrido dos espinhos no caminho
Amor sal e mel
Como o destino.