Memórias de Verde, Silêncios de Azul

Poemas soltos, por Elsa Braz

terça-feira, abril 18, 2006

Memòrias de Verde, Silêncios de Azul

Um dia, cansada de esperar por todos os sonhos que deram razão de ser à minha infância, vazia do sentir que sempre revestira a minha vida, muda de vozes, de afectos, de promessas, fechei a porta do passado e regressei ao dia a dia das pessoas comuns.
Aceitei um crescer desengonçado, o olhar faminto sempre a gritar inconformidade, um corpo esguio de naufrago e acima de tudo um sorriso que teimava encher-me o rosto como que a fazer-me sinal de outro lado. Deixei de ser a princesa de todo um universo que sempre possuíra recusando também ser a guardadora de patos que espera a chegada do príncipe encantado.
Percorri o mundo. Do esquecimento, do desencanto, da dúvida, de quanta imparcialidade é necessário subsistir.

Até hoje.
Hoje entrei bem dentro de mim, sacudi o pó de todos os anos que foram passando. Pintei de verde esperança as memórias dos dias felizes, enchi de azul todos os silêncios que foram crescendo.
Abri todas as gavetas onde escondia sonhos e afectos, folheei os livros de histórias que abraçavam a minha imaginação. Desenhei papagaios de papel para lançar mensagens novas à vida. Abri as portas e janelas para a primavera entrar e trazer de novo aquela menina do mundo da ternura, fantasia, bem-querer.
Voltei a ser fada, a ser princesa…acima de tudo voltei a aceitar-me como tendo dois mundos.
Porquê?
Porque a esperança é verde, o céu e o mar são azuis.
Porque no verde estão todos os verdes. No azul escondem-se todos os azuis. Seja qual for o tempo, o sentimento do tempo.
E a vida é apenas um barco que, para chegar ao porto, precisa de todos os mares, todos os céus e de quantas esperanças.
Eu tenho que chegar ao porto.
Única. Na unidade. De mim.