Memórias de Verde, Silêncios de Azul

Poemas soltos, por Elsa Braz

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Como as árvores

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Por detrás dos vidros, já embaciados, naquele oitavo andar direito, está a D. Maria. Ás vezes, quase se vai arrastando, mas fica ali horas a fio, observando. Faz sinais de adeus a quem passa, atira beijos ás crianças, sorri com as brincadeiras, toma partido nas discussões, bate palmas ao sol e voa, nas asas dos pássaros, muito além do céu, muito para lá do mar!...
Quando o marido ainda era vivo vinham até ao jardim, ao supermercado, ao cinema. Conversavam com todo o mundo. Todo o mundo era deles.
Agora, ficou com a janela. E o silêncio. O abandono de uma casa. Sempre cheia. Os filhos, os amigos dos filhos, os amigos dos amigos.
Ficou. Guardiã do bairro, da vida de cada dia. Como uma sentinela.
Vive.
Não desiste.

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