Memórias de Verde, Silêncios de Azul

Poemas soltos, por Elsa Braz

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Como as árvores

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Por ter completado 70anos, não podia mais continuar a trabalhar.
Arrumou os livros, os papeis, todos os poucos pertences de uma longa vida de trabalho, estudo, investigação, defesa, doação.
E saiu. Com o limite de tempo, entre as mãos!...
Olhou-se, no vidro da vitrina, mesmo à esquina. Tão curvada!... Mas...o mesmo olhar azul, ´ceu e mar, o mesmo coração a bater desenfreado. A mesma menina criança, cantando à vida.
Foi dificil recomeçar. O que fazer com a liberdade de um dia inteiro( ela que nem sequer já se habituava ao dia), o silencio da casa até então vazia( regressava sempre ao anoitecer), aquele anónima de casca envelhecida, igual a muitos anónimos. Então...a riqueza de conhecimentos, o tesouro de tanta sabedoria, uma vida inteira?!...A dar, a gerir, a cumprir?!
Pegou no que restava. A força, o sentido, a dimensão da vida.A mesma menina criança de olhos azuis céu e mar, com o coração do tamanho do mundo.
E vive.
Como as árvores.

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