Memórias de Verde, Silêncios de Azul

Poemas soltos, por Elsa Braz

quarta-feira, julho 14, 2010

1 - As mensagens da Inês

Hoje, a minha neta Inês veio oferecer-me três pequeninas conchas, embrulhadas num guardanapo de papel.
«- Avó, faz de conta que esta é a praia.»Foi dizendo, enquanto desdobrava o guardanapo.
«- Estas conchas ficaram perdidas. Foram abandonadas na areia, por uma onda qualquer.»
«- Agora… (e estendeu a mão, muito além do papel) … onde tu quiseres está o mar.»
Sorri, enquanto acariciava aquele olhar, amanhecer.
Quando ia agradecer, a Inês recomendou: «- Avó, não te esqueças das conchinhas. São muito simples, umas conchas de nada. Mas têm o segredo do mar, do céu, das gaivotas. Fala com elas.»
Dispunha-se a sair quando pareceu lembrar-se de mais alguma coisa.
«- Fala com palavras simples, que elas entendam. Não lhes queiras mostrar que sabes muito, que conheces tudo.
Estão perdidas, na imensidão da areia. Só precisam encontrar a direcção do mar.»


Durante muito tempo fiquei ali, naquele recanto da sala, com as conchas que a Inês me ofereceu.
Fiquei ali, pensando, quase divagando, por aquela praia de papel onde uma criança corria, em busca de conchinhas perdidas.
A minha neta Inês. Tão tímida, tão frágil, insegura, quase medrosa. Mas com um coração tão grande, tão atento, tão solidário!...
«- São conchas de nada… avó. Mas têm um segredo.»
«- Fala com elas.»

A vida. A praia da vida.
Quantas crianças abandonadas, sofridas, sem encontrarem a direcção, o rumo?! Tantas conchas de todos os tamanhos, múltiplas formas, tão variáveis!...Sem encontrarem… o destino.
«- Fala com elas.»
Não através de grandes movimentações, campanhas, propagandas políticas, negociais.
«- Não lhes queiras mostrar que sabes muito!..»
Fala-lhes a linguagem do amor e da esperança A linguagem do coração.
«-Palavras simples, que elas entendam.»
Só querem encontrar a direcção do mar!...Ignorando, esquecendo, amarfanhando. Destruindo.
Uma praia com pessoas que se perdem. Frágeis, sem rumo, sem ideais.
À espera. De quem lhes estenda o coração. Lhes fale a linguagem da simplicidade e da esperança.
Com pessoas.
Que caminham, sempre ao encontro, erguendo pontes, cais de partida e de chegada. Construindo barcos e abraços. Ressuscitando o tempo e a vida.

Uma praia. Num infinito mar!...

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