Memórias de Verde, Silêncios de Azul

Poemas soltos, por Elsa Braz

sábado, maio 08, 2010

O PÁSSARO AZUL E A ANDORINHA PRIMAVERA

Ao João e à Susana
Aos meus netos


Introdução

Esta é uma história de amor.
Aconteceu há muito, muito tempo, na imensa floresta da vida onde os pássaros sonham as canções, a conquista do espaço, o mistério dos ninhos e as arvores, as flores são castelos e fortalezas, esperanças e perfume.
Uma história de amor igual a todas as histórias de amor.
Diferente.
Porque um melro, profundo como a noite de todas as descobertas, ouviu de uma raposa a mensagem que se tornou luta, persistência, sacrifício, doação.


Aconteceu… assim…


Como todas as histórias…


Era uma vez…



Um pássaro azul, com asas de céu e de mar.


Uma andorinha primavera
Enfeitada de sol

A vida.

Deserto de anseios e quimeras.

Jardim onde nascem todas as manhãs.

Floresta sem limites de sonhos e de medos.

Nas margens de uma Grande Nascente.


E o Amor.

Sem limites.
Mais forte que a força dos temporais.
Mais profundo que todos os silêncios.
Maior, muito maior que o mar.

1



Um dia
Quando a manhã se espreguiçava num alvoroço de sol
O pássaro azul viu uma andorinha que afagava as rosas de um canteiro.
Ia saltitando como quem sacode as ultimas gotas de orvalho.

Uma andorinha tão gentil!

Ficou olhando, embevecido.

«- Sou a andorinha primavera.» Disse a andorinha quando olhou para os ramos a despontar em rebentos e viu um pássaro todo manchado de céu e de mar.
«- Sou o pássaro azul.» Acrescentou o pássaro num agitar de asas.
E o coração batendo, batendo acelerado.
Quanto tempo?!

O que é o tempo?!..

2


Falavam de tudo. E de nada.
Aprendiam vozes e silêncios. Segredos de voos, conquistas de espaços.
Adormeciam sonhando o acordar.
Rasgavam os dias num cantar sem limites, traçando asas de uma crescente e renovada esperança.

3



O pássaro azul, a andorinha primavera
Viviam a magia de um encantamento.

«- São namorados. São namorados.» Falava o sol, num segredar às nuvens que se iam amontoando.
«- São namorados.» Chilreavam os pássaros vindos de longe.

4


Foi então que aconteceu o temporal.
Ventos cada vez mais fortes arrancavam as folhas, partiam os ramos, destruíam os ninhos no sonho das aves.
Rasgavam o céu, golpeavam a natureza.
Depois a chuva. Alagando, arrastando tudo…


Um temporal de medo e de assombro.

Por fim, a noite.


Quando a manhã aconteceu, de novo o sol se abriu.
De novo o desafio ao tempo, à vida.


6


No destroço dos canteiros as flores iam resgatando as pétalas e o perfume. As árvores inundavam-se de seiva e de promessas. Os pássaros vazios de espanto, reconstruíam os ninhos, retomavam a revoada!...

O pássaro azul?

A andorinha primavera procurou por toda a floresta, em todos os animais, todos os recantos e em quantos céus é possível voar.
E encontrou. Meio escondido nas folhas, nas pedras e na areia que a chuva arrastou.
Um pássaro magoado, ferido.

7


Quando um melro chegou, vindo das margens de um pequeno rio.
Como uma mancha negra, fria.
Um melro guardião dos pássaros, mais velho que todos os outros pássaros e com muitos mistérios no olhar.
E contou… a conversa entre uma raposa falante e um pequeno príncipe, triste, distante do reino, em busca de amigos.

«- … Cativar». Falou a raposa.
«- Que significa cativar?» perguntou o pequeno príncipe.
«- Criar laços. »
«- Criar laços?!...»
«- Isso mesmo.»
E a raposa continuou: «- Se me cativares serei única no mundo para ti; serás único no mundo, para mim.»

8


Cativar – murmurou a andorinha primavera.
Mas o melro continuou: - A raposa quando se despediu deixou um segredo: «- Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.»

«- O essencial é invisível para os olhos.» Repetiu a andorinha primavera, para não se esquecer.


9



No dia do casamento da andorinha primavera e do pássaro azul todos os pássaros vindos de perto e de longe encheram a floresta de cânticos novos, num chilrear que quase entontecia o sol.
Abriram-se as flores em pétalas de todas as cores e as árvores rejuvenesciam em folhas e rebentos. Apesar de ser Inverno!
A andorinha primavera tinha um vestido de noiva todo manchado de sol.
O pássaro azul era todo azul, nas penas, no olhar, no coração. Um azul céu e mar.

10


Depois de todas as juras de amor e fidelidade, os noivos partiram num voo, rumo ao futuro.
Conta-se que no céu ficou uma réstia de estrelas de todas as cores, como a magia de um encantamento.
E que ainda hoje, no dia 10 de cada mês, os enamorados olham para o céu, em busca daquela luz.



Elsa Braz
Janeiro 2oo9

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

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