Memórias de Verde, Silêncios de Azul

Poemas soltos, por Elsa Braz

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Como as árvores

Fomos nós que inventámos a estratificação.
Colocámos as gerações em patamares distintos, separados. As crianças, os jovens, os mais velhos.
Tudo em nome da nossa auto-promoção, realização pessoal, liberdade de acção,conquis- ta independente do tempo e da vida.
Em nome de tudo o que consideramos certo, adequado, às exigências, às solicitações,experiências, conhecimentos.O progresso. O mundo actual.
Então, inventamos - para os mais novos - aquilo a que chamámos de equipamentos. Equipamentos sociais. Creches, jardins de infancia, escolas (com vários ciclos), Atls e outras tantas modalidades . Onde se mantinham, a tempo inteiro.
Foi necessário ultrapassar a disciplina rígida, a imagem do professor, ditador,único detentor da sabedoria, para novas formas de expressão, criatividade, desenvolvimento psicológico, sem traumas, nem bloqueios.
Nesse sentido, apoiamos também, as discotecas, os clubes nocturos, o alcool, toda a espécie de drogas, o aborto, a pílula do dia seguinte, os jogos de violência. Tudo em nome da experiência, da escolha, da liberdade sem barreiras.
E...quando surgiu a Sida, as tóxidependências, a marginalidade, o abandono de tudo, a corrupção, o suicidio... empurramos para a sociedade, o governo.
Fomos nós que abandonamos os mais velhos. Depois de uma vida inteira de trabalho, conhecimentos, doação. Em casas vazias, com a janela e o vislumbre da rua, num mundo sem reconhecimento, sem lugar para a acção, a intervençao.
Mas, criámos equipamentos sociais a que, irónicamente, chamamos lares, Casas de repouso. Onde ficam, reduzidos ao silêncio e á espera...dos filhos e dos netos!... Sujeitos, muitas das vezes, à ignorância, o abandono, a falta de escrúpulos, o lucro.
Fomos nós.E...agora? Preparamo-nos para partir, com o pequeno principe de Saint-Exupery,para outro planeta? Ou arregaçamos as mangas e tomamos parte na caravana da solidariedade entre gerações?
Ao lado de quantos, no dia a dia, já reconstroem o amor e a Esperança?!

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