Memórias de Verde, Silêncios de Azul

Poemas soltos, por Elsa Braz

terça-feira, setembro 14, 2010

5 - As mensagens da Inês

«- Avó, porque é que tudo isto se chama Aldeia-lar?»

A Inês, com o braço estendido, abarcava as ruas e as casas que iam despertando, num acenar de palmeiras e buganvílias, escondidas por detrás de portadas verdes, azuis, amarelas e vermelhas.

«- Não é uma aldeia, pois não?»

Enquanto aguardava uma resposta ia lembrando a terra dos avós, lá longe, entre montes e pinhais, com casas simples, o chocalhar das cabras, das ovelhas, em grandes rebanhos, a luta constante na terra, de sol a sol.

«- Isto não é uma aldeia?...» Repetiu.

«- É um sonho. Que se concretizou.»

«- Um sonho?»

A glicínia, já em flor, ia desprendendo pétalas e perfume. Cada vez mais pétalas, que cobriam o chão, enfeitavam os cabelos de quem ia passando.

«- Sabes, Inês, primeiro nasce o sonho. Depois acontece a história. Queres ouvir?»

Retirou as mãos dos bolsos e aproximou-se, curiosa, um tanto incrédula.

Então falei. Precisamente do sonho. Guardado bem no fundo do coração. O sonho, que era alma, vida, saudade. E foi crescendo, crescendo, apesar do tempo, a distancia, o mundo.

A Aldeia. Aquele pequeno lugar que muitas vezes nem sequer vinha no mapa. Onde estavam as raízes, a razão de ser dos afectos, a pureza dos ideais, a força das razões.

Porque não construir uma Aldeia? Lar?

Para guardar projectos, concretizar saudades e esperanças, vidas.

Adormecer cansaços, refazer ilusões.

Um aconchego de asa!...

Para os filhos, os netos, as futuras gerações.

Cada um chamou, então, o outro. O grupo de dois, três, quatro, foi aumentando, aumentando e agora… estás a ver? Cada casa…um sonho. Em cada sonho uma história.»

«- Muito interessante.» Disse a Inês. De imediato tomou a voz e o perfil de professora, a imitar a mãe.

«- E… também têm a festa, as actividades e costumes da aldeia?»

«- Muitas actividades. Passeios, jogos, ginástica, encontros culturais, muitos convívios e imagina tu até cantam as janeiras, de porta em porta. Depois há a piscina de que tanto gostas.»

«- Ah, sim. A piscina. Que pena eu ter a escola, durante o ano!»