Memórias de Verde, Silêncios de Azul

Poemas soltos, por Elsa Braz

quarta-feira, setembro 21, 2011

7 As mensagens da Inês7

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As mensagens da Inês

As férias terminaram.
A Inês acabou de chegar.
«-É para ti, avó.» Disse, entregando uma pequena flor, colhida num dos jardins da rua.
A mesma magia. Quase um ritual. Como um pacto.
«- Dou-te a primavera. Dá-me amor». Troca por troca.
A Inês voltou. Esguia como um vime. Tostada do sol e do mar. Com as unhas pintadas, o cabelo revolto.
Mais inquieta. No olhar.
«- A minha princesa.» Disse, afagando-lhe o rosto.
«- Vou fazer nove anos, avó. A mãe diz que, agora, já sou crescida.»
Coloquei a flor no mesmo lugar onde, ano após ano, outras flores foram sempre colocadas.
«- Vou para o quarto ano. Sabes, é muito difícil.» Ficou em silêncio alguns instantes e depois, quase num balbuciar: «- Será que sou capaz? Tenho tanto medo!...»
«- De quê?»
«- Quando era muito pequena tinha medo do escuro, do trovão, dos fantasmas… mas agora… tenho medo… do medo.»
Sentou-se a meu lado.
Recuei no tempo. Lá estava a mesma menina frágil, insegura, com o coração cheio de sonhos e um medo do tamanho do mundo.
A mesma menina, a caminho da escola, de muitas escolas, muitos rumos. Subindo, descendo, voltando a subir, degrau a degrau. Vencendo. Perdendo. Conquistando.
A mesma. Agora, uma avó feliz, tão feliz! Com o milagre da vida e do amor. Os netos.
«- Ainda te lembras de querer ir ao sótão, para ver as estrelas?»
«- Ah, sim. Não conseguia passar do terceiro degrau. Mas um dia enchi-me de coragem e…fui subindo…subindo.»
«-Valeu a pena?»
«Se valeu. Nunca as estrelas foram tão maravilhosas!...»
Um sorriso encheu-lhe o rosto.
«- Aí está. Foi preciso subir. Vencer todos os obstáculos. Todos os receios e indecisões. É assim em tudo.
Depois do quarto ano há o quinto. Muitos outros anos. Muito estudo, persistência, luta. Muitas descobertas. »
«- Serei capaz?»
«- Quando tiveres dúvidas…lembra-te do sótão.
E…nunca esqueças…o que é que a avó costuma dizer?»
«- Que gostas muito de mim.»
Acariciei, ao de leve, aqueles cabelos cor de sol.
«-Avó, nunca mais viste a Rita?»
«Encontro-a no caminho para Ítaca.»
«- Foi tão extraordinária com a Luna! …»