Memórias de Verde, Silêncios de Azul

Poemas soltos, por Elsa Braz

quinta-feira, agosto 22, 2013

O NINHO

                                               O NINHO
                                                                                      (Aos meus netos)
 
A Tucha comprou um ninho numa feira de artesanato. Um ninho de barro, pintado com nuvens brancas e cinzentas e dois passarinhos, muito espertos, debruçados num amanhecer.
O Filipe, que sabia tudo de ferramentas e fios eléctricos, foi colocá-lo na parede do coberto, junto ao jardim, mesmo ao lado dos pássaros pais, sempre inquietos.
Mais tarde os olhos do João descobriram um sol a desfazer-se em sorrisos, com as cores de laranja amarelo; a Milena e a Nanda encontraram uma revoada de pássaros.
 Ficou um encanto, aquela parede!...
E foi resistindo ao constante dos anos, no repetir das estações.
As palmeiras cansaram no desafio do céu; as roseiras continuaram nas flores e no perfume; todas as árvores se encheram de frutos.
Muitos pássaros, levados pela magia do vento ou de algum gato mais afoito, acabaram estilhaçados no chão.
 Mas o ninho, feito de barro enfeitado de nuvens, com os dois passarinhos muito espertos, continua na parede do coberto.
- Avô, aqueles passarinhos não crescem?» Quer saber o Vasco.
«- Tu és muito pequeno e não vês que são de barro. » Responde o João Pedro, investigador, com os óculos. «- Os pássaros de barro não crescem. »
O Vasco levantou a mão e apontou três anos, enquanto segurava os calções. Já era bem crescido.
«- Parecem muito felizes.» Disse a Joana, abraçada à Catarina.
 «- Claro que são felizes. Com um ninho tão bonito!...» O Filipinho estava admirado. Como se podia fazer um ninho enfeitado de nuvens?!
«- Os pais estão sempre por perto. Não deixam que lhes façam mal.» Afirmou a Laura, num português meio arrevesado, de mãos dadas ao Daniel.
«-Também têm o sol e os outros pássaros.» O Joãozinho apontava os pássaros que restavam.
«- Avô, esta parede está muito bonita. Porque é que não se estraga? Já passou tanto tempo!...» Quis saber a Inês, sacudindo o cabelo e mostrando as unhas pintadas.
«-Encerra um segredo.»
«- Um segredo?» Gritaram alvoroçados.
 «-E uma missão.»
Com um sorriso, continuou: «- Os vossos pais, os meninos da casa azul, da Aldeia-lar, enfeitaram esta parede, com muito amor.
 Se não fosse esse amor o ninho nem sequer era tão bonito, nem os pássaros tão felizes, apesar da força do vento. E o sol em vez de sorrir, estava adormecido. O segredo é o amor.»
«- Qual é a missão?» Perguntou a Inês.
«- Quando olharem esta parede vão sempre lembrar-se que … o mais importante é o amor.»
                                                                                             Aldeia Lar 21-o8-2013